(Excerto)
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Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas
de mim
Uíge na Uízi
onde nasci
às cinco da
tarde
explodi do
ventre da mãe
ao canto do
pírulas
mãe materna
mãe terra
mãe sorte
mãe água do rio
rio de outras
águas maternas
chovidas ou não
chuva rugido de
leão
chuva marca leve
das pegadas da gazela
nascido para o
mundo
às cinco da
tarde
no Uíge na Uízi
quase apagada
memória
da longa e única
rua
de casas de
adobe
de pau a pique
em pique de pau
novo e logo
envelhecido
no tragar do
salalé
que não sabia de
arquitecturas
na linearidade
da rua
onde o pau a
pique
por fora e por
dentro
salpicado de
barro vermelho
florido de
várias camadas de cal
apaziguou os
gritos do parto
às cinco da
tarde
de um Novembro
sofrido
no ventre de uma
bela mulher
Alice com Maria
mãe de Deus
dores gemidas na
culpa bíblica
porém Maria
sempre Alice
a embalar em
seus braços exaustos
o novo mundo
ainda envolto
nos líquidos
maternos
mas logo a
chamar
pela boca da avó
materna
os antepassados
da linhagem
para o batuque
tuque norte
tuque sul
tuque este
tuque oeste
em cada ermo do
mundo
cada tuque
batido
uma bênção solta
no balido do
cabrito esgoelado
na pele do boi
malhado
preto e branco
preto mukongo
branco beirão
batuque mukongo dos
reis antigos
fado do branco
vindo dos mares
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Assim nasci
às cinco da
tarde
no Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas de mim